domingo, 10 de maio de 2015

A entrevista de Sampaio da Nóvoa ao Público


António Nóvoa, 60 anos, antigo reitor da Universidade de Lisboa e actual candidato presidencial deu uma longa entrevista ao público da qual destacamos este excerto:



"Não vai ter comissão de honra, nem comissão política?
Comissão de Honra, no sentido tradicional, não. Mas é evidente que a partir de certa altura queremos divulgar os nomes de muitas pessoas que estão a dar apoio a esta candidatura. Esta é uma candidatura republicana. Não fazemos convites. Quem quiser vir, que venha. Até agora há um grupo de cerca de 12 pessoas, mais operacional, que se encontra quase diariamente. É gente na casa dos quarenta e poucos anos, totalmente voluntárias. Duas ou três vão deixar os empregos para se juntarem a isto a tempo inteiro. Para a semana abriremos a sede. Depois há um conjunto de pessoas com que me reúno, tomo pequeno-almoço, almoço, telefono, sempre de um modo informal. Não gostaria muito que ganhasse organicidade. Quando anunciei a minha candidatura no dia 29 desliguei-me da Universidade. Agora também não tenho salário. Achei que o devia fazer. Iria viver a campanha a achar que devia estar a dar uma aula...

Tirou uma licença?
Sem vencimento.

Quando vier a ter apoios partidários como é que vai ser? Vão integrar-se nessa forma de fazer campanha que defende?
Fico contente por utilizar o “quando”, eu teria tendência a utilizar o “se” [Risos]. Se vier a ter, as pessoas terão de funcionar no interior destas dinâmicas. É uma característica pessoal: a pior coisa que me podem fazer é tentar encostar-me à parede. Há muita arrogância no poder em Portugal. As pessoas a mim levam-me por bem, mas constrangendo-me é impossível. Eu vou fazer o possível dos impossíveis. Com uma entrega total. Mas quem vai fazer isto são os portugueses.

Já sabe quanto vai custar a campanha?
Temos um cálculo. Queremos fazer uma campanha com poucos custos. Não teremos um aparato centralizado que depois terá de colocar outdoors nas rotundas todas do País. Depois de termos analisado todas as campanhas anteriores, para fazermos uma campanha séria, que chegue às pessoas, precisamos de cerca de um milhão e meio de euros. É um bocadinho menos do que se gastou em campanhas anteriores. Se este processo correr bem, se tiver os níveis de votação que pensamos que venha a ter, a subvenção do Estado cobrirá esse valor. Teremos de recolher alguns donativos, eu terei de recorrer às poucas poupanças que tenho. Não é líquido que se possa pedir um empréstimo… Se correr mal, o risco é meu e estou cá para isso.

Diz-se um homem de esquerda. Nunca houve maiorias de coligação à esquerda. Acha que o sistema político está demasiado inclinado ao centro?
Acho que mais do que inclinado ao centro, criou-se uma convicção de que só se podia governar ao centro. É o famoso “arco da governação”, que eu acho uma coisa verdadeiramente insuportável, até porque é um conceito que logo à partida exclui 20% dos portugueses. A inevitabilidade do centro é a inevitabilidade de certas políticas. Sou completamente contrário a isso. As sociedades são de uma enorme pluralidade e essa pluralidade deve ser respeitada ao limite. Daqui decorre uma segunda questão central: a capacidade de fazer entendimentos. A partir do respeito pela diversidade, temos de ter a capacidade de fazer os entendimentos que resultem da vontade popular.

Sente-se capaz, como Presidente, de pôr os partidos a falar e a fazer entendimentos?
É a história da minha vida. Sempre o fiz na Universidade. Eu não faço consensos para vivermos a nossa vidinha o melhor possível, faço consensos em torno de projectos. Sinto-me muito capaz disso. É talvez de todas a coisas a que faço melhor. Essa amálgama do centro é uma coisa muito irritante em Portugal.

Daria posse a um Governo minoritário?
Claro. Não vejo nenhum drama nisso, desde que seja possível encontrar entendimentos e equilibrios que permitam encontrar estabilidade na governação. É muito importante haver estabilidade e que os portugueses sintam que o Presidente garante essa estabilidade. Mas estabilidade, para mim, não é ficar tudo na mesma.

Cavaco Silva já fez saber que não dará posse a um Governo minoritário. Se vencer as eleições à primeira volta, embora só tome posse a 9 de Março, vai estar a assistir ao processo de formação do Governo e às negociações do Orçamento de fora. Tem disponibilidade, depois de eleito, para ajudar o Presidente actual, caso ele lhe peça?
Em democracia, os mandatos cumprem-se até ao último dia. O Presidente tem um órgão próprio de aconselhamento, que é o Conselho de Estado. Contudo, se o Presidente entender que ouvir-me nesse contexto pode ser-lhe útil, estarei sempre disponível, como sempre estive. Mas a responsabilidade pertence ao actual Presidente.

Consegue ver-se a dar posse a um Governo do Bloco Central?
Consigo. Se me pergunta se esse é o meu ponto de partida, não é. Espero que seja claro para toda a gente que o meu ponto de partida é o da crítica das políticas de austeridade.

Ouviu Carvalho da Silva dizer que ainda não existem candidatos que ponham em causa a austeridade?
Não, não ouvi. A primeira parte do meu discurso de apresentação de candidatura é toda sobre isso, uma crítica das políticas de austeridade. Fi-lo de maneira intencional, poderia ter começado pelos poderes presidenciais. Quis deixar essa marca na minha declaração de candidatura. Isso para mim é muito claro. Quando se fala em Portugal de Bloco Central o que se fala é em tornar inevitáveis essas políticas de austeridade. Não sou favorável a isso. Mas o Presidente tem de tirar as conclusões da vontade das pessoas. Eu não posso substituir-me a essa vontade. Se num determinado momento resultar que essa é a única possibilidade, é evidente que terá de se encontrar uma solução.

Gostaríamos de saber o que faria em algumas situações concretas. A primeira é: assinaria o Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio (TTIP)?
Antes deixe-me esclarecer um ponto. Um candidato a Presidente tem de ir um bocadinho mais longe do que nas suas funções enquanto Presidente, O Presidente não tem funções legislativas, nem executivas, e tem de respeitar isso até ao limite, mas um candidato não pode responder a tudo dizendo que não tem nada para dizer… Vou responder a algumas questões por essa razão. Em relação ao Tratado Transatlântico tenho algumas reservas sobre a maneira como está a ser negociado. Creio que podemos estar de novo perante uma situação que já nos aconteceu antes com a União Europeia, que é aderirmos a um espaço comercial mais amplo para o qual a nossa economia pode não estar preparada. Estamos sempre a jogar um jogo, como nós percebemos hoje em relação ao Euro, que parece aberto, de iguais, mas onde uns têm umas armas e os outros têm armas diferentes. Depois tenho a sensação de que sempre que estão em jogo tratados em que intervêm os Estados e grandes grupos económicos, quase sempre são os interesses económicos privados que acabam por prevalecer. Ou porque têm melhores advogados, consultores ou influência. Quase nunca, ou nunca, estas coisas resultam a favor do público ou dos Estados.

Se houver um novo tratado europeu, pondera convocar um referendo?
Pondero, sim. O Presidente não pode convocar um referendo por iniciativa própria, pode criar condições para que isso aconteça. Se houver nos próximos anos uma revisão dos tratados, temos obrigação de fazer um debate muitíssimo maior e mais informado. O Presidente deve sinalizar perante os partidos que não ratificará um tratado se não houver um amplo debate na sociedade. E em casos de tratados que afectem de forma significativa a soberania nacional o Presidente pode dizer que entende que devem ser submetidos a referendo. O meu entendimento é que se o Presidente é chamado a ratificar é porque pode escolher entre ratificar ou não. Se não, não vale a pena… Alguém traz um carimbo e assina pelo Presidente. O que se verifica hoje é que a nossa adesão à Europa foi sendo feita de forma pouco informada.

Mário Soares promovia debates com as célebres presidências abertas. Vai fazer o mesmo?
Julgo que os portugueses precisam de um Presidente mais próximo, mais presente, que as ouça mais, que seja capaz de perceber os seus problemas. A minha ideia é ter presidências descentralizadas, onde eu posso estar um mês num lugar, outro mês no outro, mas é claro que é preciso ponderar com muito cuidado, porque se isto tem custos é melhor ninguém se meter a fazê-lo. A dimensão da coesão social — da pobreza, da luta contra as desigualdades, contra a austeridade que está a massacrar o povo português — e da coesão territorial — a desertificação, o despovoamento, aldeias inteiras que estão a desaparecer — são duas áreas centrais da minha acção presidencial.

Defende a renegociação da dívida “até ao limite do possível”. Como é que isso pode ser feito?
O limite nós não sabemos nunca. Quem está na ciência sabe que nunca fazemos o que é possível, porque isso já os outros fizeram. Nós vamos tentar descobrir uma coisa impossível, que nunca ninguém fez até agora.

Daí a pergunta: vendo o que se está a passar com a Grécia, não é impossível?
Vai ser obviamente um processo duro e difícil. Há compromissos que foram assumidos e nós, honradamente, temos de cumprir. Mas não precisamos de o fazer de forma passiva, ordeira, e como bons alunos. Podemos fazê-lo explicando em todos os lugares, dentro e fora de Portugal, fazendo alianças com outros países em situação idêntica, tentando criar as condições mais vantajosas, para que o problema - uma dívida insustentável - possa ganhar a possibilidade de ser renegociada. Sem isso resta-nos o caminho de sermos um país pobre, onde há cada vez menos capacidade competitiva, onde há cada vez menos jovens, que vai de ano para ano piorando nas suas condições sociais. Mas há muita coisa que vai acontecer nos próximos meses ou anos e nós não conseguimos sequer imaginar agora.

Para já, os credores estão a fechar a porta a Varoufakis e a Tsipras...
Acho que o jogo ainda não chegou ao fim… Está a tirar conclusões do processo grego que eu ainda não sou capaz de tirar. Vamos ter de seguir o que se segue na Grécia. Sabemos uma coisa: as duas últimas grandes eleições na Europa, na Grécia e no Reino Unido, deram uma vitória considerável a correntes que, sendo completamente diferentes, têm ambas um grande cepticismo em relação a esta Europa. É um pouco triste o que vou dizer agora e até me custa, eu que sou um europeísta de sempre: a União Europeia conseguiu esta coisa extraordinária que é transformar-nos a todos em eurocépticos. De facto, o que está a acontecer não pode deixar de nos trazer uma enorme descrença em relação à União Europeia. Alguma coisa vai ter de mudar, e seriamente. Este problema não é meramente financeiro, é político. Estamos a falar de política, na Europa.

Mas a esquerda não conseguiu, até agora, nenhuma alternativa à austeridade…
A palavra-chave da sua pergunta é “até agora”. Por isso é que estamos aqui e agora, para poder construir um projecto de mudança em Portugal e darmos um contributo para a mudança na Europa.

Sente que é essa a sua responsabilidade?
Completamente. Dou-me a este projecto, com todos os riscos no plano pessoal, com uma enorme crença de que posso contribuir para uma mudança de fundo da política em Portugal, Se nós acreditássemos que esta Europa não vai mudar, e que as políticas de austeridade são uma inevitabilidade ficávamos em casa a protestar contra qualquer coisa...

Numa entrevista recente disse que na crise de 2013, com as demissões de Portas e Gaspar, devia ter havido uma renovação da legitimidade democrática. Com eleições?
Sim.

Em que se baseava?
No princípio constitucional do regular funcionamento das instituições democráticas. Havia uma quebra forte de confiança no programa político, com a demissão do ministro que tinha sido o seu protagonista, como a demissão do principal parceiro da coligação. Havia também uma quebra de confiança grande entre o que tinham sido as políticas do Governo e a percepção dos portugueses sobre o que lhes havia sido prometido na campanha eleitoral. Na minha opinião, em alturas dessas, o Presidente deve dar a voz aos portugueses. Uma parte do que se passa em Portugal hoje- o desânimo, a crispação, a animosidade que se sente na sociedade - tem a ver com a situação económica, obviamente, mas tem a ver também com a quebra de confiança no sistema político e com o facto de, na altura própria, os portugueses não terem sido chamados a renovar a legitimidade democrática do Governo.

Acha que este Governo tem menos legitimidade?
O Governo tem uma legitimidade do ponto de vista da votação que é inequívoca. Tem maioria no Parlamento, o Presidente tomou a decisão que tomou, mas há uma legitimidade que vai para além disso, que tem a ver com a confiança dos portugueses.

O Presidente é o comandante supremo das Forças Armadas, sector onde é muito visível o desencanto com o rumo da democracia. O facto de não ter um passado partidário pode favorecer a simpatia desse sector?
Não tenho nunca, em nenhuma circunstância, um discurso anti-partidos. 48 anos chegaram, não precisamos de mais. Sou crítico em relação a certas modalidades dos aparelhos partidários e do seu funcionamento. A Constituição é, agora, como se compreende, o meu livro de cabeceira [risos]. Depois de a ler muitas vezes, cada vez me vou apercebendo melhor que não é por acaso que lá está previsto que os Governos vêm de projectos partidários e os Presidentes de projectos individuais. Porque, de algum modo, essa candidatura pessoal dá uma independência (que eu não digo que quem venha de um partido não tenha) na qual os sectores militares certamente se revêm com alguma simpatia.

Nunca militou num partido, mas teve uma passagem por um partido revolucionário, a LUAR. Pode contar-nos como foi essa experiência?
Nunca me filiei. Participei durante alguns meses nalgumas sessões. Sempre fui muito desalinhado. Nessa mesma altura, no ano de 1974, colaborei com associações de moradores, comissões de trabalhadores e promovi uma das primeiras candidaturas independentes às autárquicas. Chamava-se, se não estou enganado, TMUPA, Trabalhadores Moradores Unidos para as Autarquias, para a assembleia de freguesia da Parede [em 1976]."

O leitor interessado pode ler a entrevista integral aqui.


*


A candidatura de Sampaio da Nóvoa diz-se apartidária mas teve o beneplácito de Mário Soares. Portanto tem o apoio encapotado do PS porque secretário-geral deste partido que não subscrever os interesses do antigo presidente da República terá a sorte de António José Seguro, ou seja, será substituído. Contudo esta duplicidade não parece incomodar Nóvoa.

Outra estranheza é a naturalidade com que o candidato encara uma previsão de despesas de campanha da ordem do 1,5 milhões de euros, dizendo que se paga com a subvenção do Estado e de donativos. Ora o montante da subvenção depende do número de votos que conseguir obter. Mesmo com o apoio explícito da comunicação social de esquerda — a começar pela mãe da António Costa, a jornalista Maria Antónia Palla, que esteve presente na sessão de lançamento da candidatura no Teatro da Trindade —, como é que o candidato sabe antecipadamente que vai ter um milhão de votos? Se não tiver, quem vai pagar a sua campanha eleitoral?

Contudo o que mais me pasma é o radicalismo político de Sampaio da Nóvoa que se insurge contra os partidos do chamado arco da governação e chega ao ponto de dizer que se está a marginalizar 20% dos portugueses. Quererá Nóvoa que os votantes naqueles partidos, mais os eleitores que votam branco/nulo, se submetam à vontade dessa minoria?

Também defende uma aliança com a Grécia. Será que desconhece que se trata de um país onde está enraizado o hábito de não pagar impostos e que tem vivido egoisticamente nas últimas três décadas, primeiro à custa de subsídios a fundo perdido da União Europeia, e depois de empréstimos?

De pasmar também a simpatia de Nóvoa pelos militares, tornada numa elite do funcionalismo público e paga principescamente...

Nóvoa é uma invenção de Mário Soares e a estratégia do ex-presidente é simples. O PS não vai ter maioria absoluta. Por isso é preciso colocar em Belém um radical de esquerda que dê posse a um governo socialista minoritário, que se entretenha a animar as hostes da extrema-esquerda com diatribes contra a austeridade, mas vá obtendo delas a anuência para portarias, leis e outra legislação que requeira aprovação parlamentar.

Entretanto os socialistas manipulam a justiça — "E o juiz Carlos Alexandre que se cuide...", ameaçou Soares —, conseguem arquivar os processos contra José Sócrates e todos os políticos a contas com a justiça, bem como contra Ricardo Salgado que lucrou com as PPPs de Guterres e de José Sócrates, mas foi pródigo em donativos para as campanhas eleitorais.

Controla-se a opinião pública através da comunicação social detida pelos empresários do regime e de um aumento fictício dos salários conseguido pela diminuição da taxa social única dos trabalhadores. A segurança social vai ficar descapitalizada? Far-se-á cair a responsabilidade sobre o governo que vier reparar os estragos. No final, os socialistas engordam o pé-de-meia na banca suíça e o fundo de maneio das fundações e quem vai pagar a conta são os funcionários públicos e os pensionistas.

Existe apenas um senão: há quatro décadas que, em Portugal, os presidentes da República são eleitos com os votos do centro-esquerda ou do centro-direita, mas sempre recolhendo os votos do eleitorado do centro.
Sampaio da Nóvoa pertence à extrema-esquerda. Aposto, para rejúbilo dos bolsos da classe média, em como a estratégia de Mário Soares vai ser mais um fracasso.

A opinião dos outros:


Diógenes de Portugal
10/05/2015 10:40
PARTE 1: Pelo curriculum, pelo modo brilhante como dirigiu a Universidade de Lisboa, por ter renunciado ao salário para se dedicar à candidatura, Sampaio da Nóvoa destaca-se da mediocridade da classe política portuguesa. A sua candidatura merece todo o respeito e toda a atenção. Contudo, há aspectos das suas declarações políticas que acho inquietantes e desejo que ele possa esclarecê-las satisfatoriamente.
  • manuel vieira
    lisboa 10/05/2015 19:30
    Pode fazer o favor de me elucidar sobre:
    1. Quais são as suas fontes para dizer que ele foi um óptimo reitor?
    2. Conhecia o cavalheiro de algum lado?
    3. Onde é que eu posso verificar a renúncia ao vencimento?
    4. Porquê, ou em quê, ele se distingue da restante classe política? Da extrema-esquerda não me parece que esteja assim tão distante.
  • Diógenes de Portugal
    10/05/2015 21:08
    Caro Manuel Vieira,
    Sim, conheço profissionalmente Sampaio da Nóvoa da Universidade de Lisboa. É pessoa de carácter irrepreensível. Dirigiu a universidade de forma consensual. Reformou vários serviços da universidade, com economias significativas para o orçamento. Administrou sem défices e com orçamentos progressivamente reduzidos. Foi o principal impulsionador da maior reforma do sistema universitário português no último século, com a fusão das antigas Universidade de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa. São muito raros os políticos de quem se possa dizer algo parecido. Com poucas excepções, a norma na classe política é a demagogia e, às vezes, a má administração, as dívidas contraídas para ganhar eleições e a corrupção.
    Para o caso de ter pensado que o meu comentário teve objectivos políticos, sugiro-lhe que leia os meus outros comentários a esta notícia. Verá que tenho reservas relativamente à candidatura de Sampaio da Nóvoa. Sou agnóstico relativamente a ideologias políticas. Aprecio os políticos mais pelo bom senso do que pelas crenças. Em particular, não tenho simpatia pela extrema-esquerda nem pela extrema-direita porque, entre outras coisas, têm histórias de mau convívio com a liberdade.
    Caro Manuel Vieira,
    "3. onde é que eu posso verificar a renúncia ao vencimento?" As licenças sem vencimento são publicadas no Diário da República.
  • manuel vieira
    lisboa 11/05/2015 12:41
    Muito obrigado pelos seus esclarecimentos.

Diógenes de Portugal
10/05/2015 10:41
PARTE 2: Dizer que se é contra a austeridade porque sim, não passa de uma fantasia. Se a casa de uma família for destruída num terramoto e a casa não estiver segura, a família terá um período de austeridade. Se alguém perdeu o emprego e passou a viver do subsídio de desemprego, então essa pessoa passará por um período de austeridade. Se um país for à bancarrota por causa de políticas irresponsáveis, então esse país passará por um período de austeridade. Deve discutir-se como minimizar a austeridade, mas dizer que se é contra não resolve o problema. Quando se está doente, a doença não desaparece por dizermos que somos contra ela.

PARTE 3: Aprecio muito que Sampaio da Nóvoa queira valorizar a diversidade política. Contudo, convém lembrar que os partidos que representam os 20% de que fala na entrevista se auto-marginalizaram.
Entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, esses partidos ou os seus antecedentes ou movimentos afins, fizeram tudo para construir uma ditadura comunista em Portugal. Depois disso, alguns deles deram origem à organização terrorista FP25 que assassinou pessoas. Embora o PCP se tenha demarcado do terrorismo depois de 25 de Novembro de 1975, as declarações dos seus dirigentes e as relações privilegiadas com outros partidos que governavam ditaduras mostram que o PCP sempre conviveu mal com a democracia e a liberdade.
Se em Portugal existissem partidos fascistas que representassem 20% do eleitorado, Sampaio da Nóvoa teria o mesmo entusiasmo pela diversidade?

PARTE 4: Nas democracias parlamentares, o objetivo é ter governos que tenham o apoio maioritário do parlamento. Periodicamente, o eleitorado elege novo parlamento de onde resulta novo governo e novas políticas. A unanimidade não é capaz de tomar decisões suficientes para governar um país. Sampaio da Nóvoa sabe certamente isso do tempo em que foi reitor da Universidade de Lisboa.
Os 20% de que fala na entrevista são insuficientes para elegerem uma maioria parlamentar e defendem políticas que tornam impossível um consenso com partidos que representam os outros 80%. Um exemplo óbvio são as relações internacionais, onde uns defendem a saída do euro, da União Europeia e da Nato e os outros defendem a participação nestas instituições.

Marco Oliveira
10/05/2015 12:38
Gostaria de saber onde estava o Sampaio da Nóvoa, quando o Sócrates produzia esta dívida colossal. Não me lembro de ter lido, ou ouvido, nenhuma crítica, ou alerta, durante a governação Sócrates, alertando para o buraco em que nos estava a meter. Agora "acordou" contra a austeridade consequência da governação Sócrates? Estranho, muito estranho...
  • Daniel Silva
    10/05/2015 14:02
    Se calhar é porque existe gente que ainda tem memória e sabe que o estado actual do país não se deve exclusivamente ao Sócrates! Pelo contrário, depois deste Governo e Presidente, o Sócrates até foi o menor dos nossos males!
  • Luis Marques
    Javali profissional, Manchester 10/05/2015 14:31
    Vistas tão curtas, caro Daniel. É pena que não se consiga distinguir os efeitos das causas.
  • manuel vieira
    lisboa 10/05/2015 19:21
    Nada estranho. Que diabo, as eleições são só este ano.

Diógenes de Portugal
10/05/2015 17:06
Como eleitor, avalio as candidaturas e atribuo-lhes pontos. Voto na que obtiver mais pontos, a menos que todas chumbem.
Candidatura que ponha em causa a liberdade, a democracia parlamentar ou os compromissos internacionais chumba liminarmente. Declarações de fé na esquerda ou na direita são irrelevantes.
Pela vontade de promover entendimentos, a rejeição da violência, a promessa à mãe de não dizer mal de ninguém e a declaração de liberdade de costumes, Sampaio da Nóvoa ganha pontos.
Pela declaração de que teria dissolvido a Assembleia da República em 2013 perde pontos, por promover a instabilidade. A passagem pela LUAR terá sido um devaneio da juventude. Há outros aspectos a considerar na entrevista que precisam de mais do que 800 caracteres para serem comentados. Por enquanto, não chumba.
  • Marco Oliveira
    10/05/2015 17:51
    Diógenes,
    Diga-nos como vai a sua classificação, ou seja, quantos pontos tem este candidato, quantos tem o Rui Rio, o Marcelo Rebelo de Sousa, etc. Estará muito renhida a disputa?
  • ana cristina
    consultora, lisboa 10/05/2015 17:56
    Eu também gostava de conhecer a sua pontuação para o conjunto dos candidatos e putativos candidatos. Gostei dos seus argumentos muito claros sobre o Nóvoa. É de tornar a análise abrangente a outros. O Henrique Neto?
  • Diógenes de Portugal
    10/05/2015 19:26
    Caros,
    Muito obrigado pelo interesse. A esta distância, a classificação é mais qualitativa do que quantitativa. Além disso, os possíveis candidatos estão a fazer percursos diferentes que é difícil comparar. Aprecio pouco declarações solenes e bonitas que qualquer um poderia repetir. Prefiro ir observando como reagem, e lembrar como reagiram, em certas circunstâncias.
    Tive o privilégio de observar a acção de Sampaio na Nóvoa como reitor da Universidade de Lisboa, onde mostrou excelentes qualidades. Aprecio, em particular, a sua invulgar capacidade para promover entendimentos. Acho, contudo, a sua pré-campanha com demasiados floreados e pouco conteúdo.
    Henrique Neto tem menos exposição pública. Li recentemente uma entrevista dele interessante e com conteúdo. Despertou positivamente a minha atenção.
    À direita, há menos pressão para pré-candidaturas temporãs. Por isso, os possíveis candidatos estão a resguardar-se, o que é legítimo. Sendo comentador, M. R. Sousa diz demasiadas coisas para ser avaliado como candidato. E Rui Rio diz poucas.
    Por enquanto, nenhum dos quatro chumba.
  • Marco Oliveira
    10/05/2015 23:06
    Diógenes,
    Obrigado pela sua informação, mas, por favor, assim que tiver uma lista com certa consistência, partilhe connosco o ranking da mesma.


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