Uma explosão massiva ocorreu ontem, dia 4 de Agosto de 2020, em Beirute, capital do Líbano, estilhaçando os vidros das janelas, derrubando portas, fazendo tremer edifícios a centenas de metros de distância e destruindo uma grande parte da cidade.
Pelo menos 157 pessoas foram mortas, cerca de 5000 ficaram feridas e há inúmeros desaparecidos.
O primeiro-ministro do Líbano anunciou que a investigação ao desastre incidirá sobre 2750 toneladas de nitrato de amónio armazenado num armazém do porto de Beirute. Efectivamente, no local do hangar 12 ficou uma cratera que rapidamente se encheu de água:
Esta carga era oriunda da Geórgia e viajava no navio MV Rhosus com destino a Moçambique, mas fora confiscada pelo governo libanês depois da tripulação russa ter abandonado o navio. Estava armazenada no porto sem medidas de segurança adequadas há seis anos:
The bags say "NITROPRILL HD," which may be a knock-off of Nitropril made by Orica.
— Jeffrey Lewis (@ArmsControlWonk) August 4, 2020
Orica sets the TNT equivalence for fire at 15 percent.
.15 x 2750 = 412.5
One more data point that suggests the explosion was a few hundred tons. https://t.co/ucuHdpazm3
Este vídeo mostra o armazém que explodiu em Beirute, podendo observar-se o incêndio e explosões menores que, posteriormente, levaram à explosão maior:
Video: Footage posted on social media shows a close-up view of the warehouse area that exploded in Beirut, along with the fire and smaller blasts that led up to the larger explosion. pic.twitter.com/FqyTiJkFUj
— Evan Kohlmann (@IntelTweet) August 4, 2020
O nitrato de amónio é um composto de fórmula química NH₄NO₃, formado por átomos de azoto, oxigénio e hidrogénio, que é usado como fertilizante e no fabrico de bombas.
Como é um oxidante, se for misturado com qualquer contaminante, a mistura poderá detonar. Por isso a União Europeia estabeleceu directrizes rigorosas sobre o tratamento e armazenamento do nitrato de amónio. O armazém deve ter paredes resistentes ao fogo, um piso não combustível e temperaturas controladas. Não pode ser armazenado com nenhum combustível.
O nitrato de amónio, quando exposto ao calor, começa a fundir, decompõe-se e liberta gases que podem desencadear uma explosão. Se houver uma grande quantidade de nitrato de amónio armazenado, logo que uma pequena porção começar a fundir e explodir, o calor resultante pode provocar a detonação da toda a massa armazenada.
Um dos piores desastres industriais da história dos Estados Unidos ocorreu em abril de 1947 quando um navio carregado com 2100 toneladas de nitrato de amónio incendiou-se no porto da cidade de Texas. O incêndio causou uma explosão e incêndios adicionais que danificaram mais de 1000 edifícios e mataram cerca de 581 pessoas.
E no ataque terrorista perpetrado na cidade de Oklahoma, em 1995, só foram necessárias 1,8 toneladas de nitrato de amónio para matar 168 pessoas e ferir 680.
ResponderEliminarÉ um prazer receber as suas notícias. O meu amigo vai obrigar-me a escrever um novo artigo sobre a explosão em Beirute.
Thierry Meyssan, o autor do artigo para o qual me alertou, é uma pessoa polémica. Tem dedicado a vida a tentar transformar a sociedade contemporânea, relacionando-se com ditadores que tanto podem ser da extrema direita, como da extrema esquerda. Actualmente vive na Síria e apoia Bashar al-Assad.
No entanto, naquela fauna de monarquias absolutistas — Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein, Oman e Kuwait — e pseudo-democracias que pulula no Médio Oriente, Assad é dos poucos que defende valores éticos ocidentais.
Portanto temos de concordar que, na Síria, o homem escolheu o lado certo. Receio, porém, que os conhecimentos dele no domínio da Física e da Química sejam insuficientes para poder afirmar, com absoluta certeza, que a explosão de Beirute foi provocada por uma nova arma.