Na sexta-feira 4 de Julho, foi tornado público que Vítor Bento fora convidado por Ricardo Salgado para assumir a liderança do BES. Assumiu funções a 14 de Julho, tendo escolhido para administradores José Honório e o presidente do IGCP José Moreira Rato, este último para dirigir a área financeira.
No domingo 3 de Agosto o BES foi dividido em dois bancos, tendo a equipa de Vítor Bento passado a liderar o Novo Banco.
Em comunicado emitido ontem, Vítor Bento, presidente do Novo Banco, José Honório, vice-presidente, e João Moreira Rato, administrador da área financeira confirmam as notícias de pedido de renúncia aos cargos divulgadas na véspera pela comunicação social:
Em face da especulação mediática sobre o assunto, confirmamos que durante esta semana comunicámos ao Fundo de Resolução e ao Banco de Portugal a intenção de renunciar aos cargos desempenhados na administração do Novo Banco, dando tempo para que pudesse ser preparada uma substituição tranquila.
Gostaríamos de salientar que não saímos em conflito com ninguém, mas apenas porque as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio, com base no qual aceitáramos esta missão em meados de Julho.
Entretanto contribuímos para a estabilização do banco, pusemos em marcha as acções necessárias para a normalização e melhoria do seu funcionamento e lançámos a elaboração de um plano de médio prazo. E foi já encetado um processo para a rápida venda do banco, gerido pelo Fundo de Resolução e pelo Banco de Portugal.
Por estas razões, entendemos ser agora oportuno passar o testemunho a uma outra equipa de gestão.
Acreditamos que o Novo Banco é uma grande instituição, com gente muito dedicada, clientes leais e uma actividade de negócio que pode dar um importante contributo para a recuperação da economia portuguesa.
Vítor Bento
José Honório
João Moreira Rato
Nas últimas duas semanas foram visíveis sinais de desentendimento entre a administração do Novo Banco e o Banco de Portugal. Um deles foi a ausência da administração do NB na cerimónia de tomada de posse dos novos administradores do Banco de Portugal (BdP).
A saída de Vítor Bento e da sua equipa deve-se à rejeição pelo banco central da estratégia de longo prazo que apresentaram.
O governador do BdP e o Governo querem vender o Novo Banco o mais rápido possível e directamente a uma outra instituição bancária, enquanto Vítor Bento e a equipa defendem um projecto a médio prazo e com dispersão de capital em bolsa.
A comissão de trabalhadores do Novo Banco, pela voz do seu coordenador, defendeu também uma alienação de médio prazo: "O banco precisa de estabilidade e não se podem baixar os braços. Estamos mais unidos do que nunca para salvar a instituição. Uma venda apressada será o fim do banco e nenhum de nós quer isso", disse João Matos.
O Fundo de Resolução e o Banco de Portugal agradeceram a todos os elementos do Conselho de Administração em funções a disponibilidade demonstrada para assegurar a estabilidade da instituição nas primeiras semanas após a resolução do BES. E hoje anunciaram, em comunicado, o sucessor de Vítor Bento:
O Fundo de Resolução e o Banco de Portugal convidaram para assumir a presidência do conselho de administração do Novo Banco o Dr. Eduardo Stock da Cunha, que está mandatado para formar e liderar uma experiente equipa motivada para o projecto de desenvolvimento e criação de valor para o banco.
O Dr. Eduardo Stock da Cunha tem uma longa experiência de sucesso no sector financeiro, tanto nacional como internacional. Atualmente desempenhava funções de diretor no Lloyds Banking Group (LBG), em Londres, depois de ter trabalhado vinte anos como administrador no Grupo Santander Totta e mais tarde no Sovereign Bank/Santander Bank N.A. nos Estados Unidos.
No seguimento das propostas do Dr. Eduardo Stock da Cunha como presidente, o novo conselho de administração do Novo Banco integrará o Dr. Jorge Freire Cardoso, como administrador responsável pela área financeira, contando também com o Dr. Vítor Fernandes e o Dr. José João Guilherme.
O Dr. Jorge Freire Cardoso, até aqui administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), tem uma carreira distinta na área da banca de investimento, tendo sido anteriormente presidente da comissão executiva do Caixa - Banco de Investimento. O Dr. Vítor Fernandes foi administrador do Banco Comercial Português, da Caixa Geral de Depósitos e CEO da Seguradora Mundial Confiança. Quanto ao Dr. José João Guilherme, após cessar as suas funções como administrador do Banco Comercial Português e de CEO do BIM – Banco Internacional de Moçambique, dedica-se atualmente à administração de empresas não financeiras.
Eduardo Stock da Cunha tem uma longa experiência de banca. Fez parte da equipa fundadora do Santander Portugal, em 1993, com António Horta Osório. Em Outubro de 2013 trabalhava no Sovereign Bank, subsidiário do Santander nos Estados Unidos, quando saiu para integrar a equipa do Lloyds, em Londres, novamente a convite de António Horta Osório.
Agora Stock da Cunha vai deixar temporariamente as suas funções no Lloyds Bank, onde é director de auditoria desde Abril de 2014, para dirigir o Novo Banco até à sua venda no próximo Verão.
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Ninguém de boa-fé vai procurar fazer ondas com a nomeação de Eduardo Stock da Cunha para presidente executivo do Novo Banco, dada a sua experiência no sector bancário, tanto nacional como internacional. Só mesmo politiqueiros que procurem colher mais uns votos, pescando nas águas turvas da ignorância de alguns dos nossos compatriotas. Aliás esta entrevista mostra que é uma pessoa singular.
O que faz pensar é a pressa do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas em vender o Novo Banco. Afinal foi o motivo que levou Vítor Bento e equipa a bater com a porta.
O banco foi capitalizado com 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução, criado em 2012 para ajudar os bancos que passem por dificuldades e sustentado com as contribuições da própria banca. Mas o Fundo é recente e ainda não dispunha daquela quantia. O Estado teve de emprestar-lhe 4,4 mil milhões provenientes de fundos da Troika, mas garantidos pelos nove bancos que integram o referido Fundo.
Numa entrevista no início de Agosto, Vítor Bento explicava que a equipa estava a elaborar um plano de reestruturação e admitia vender activos do banco:
"Não vou fazer uma declaração, neste momento, sobre o que, concretamente, iremos vender. Admito vender activos. Aliás já tinha dito no comunicado que fiz, no dia 30 de Julho, a seguir à apresentação de resultados, que tinha três pontos: a necessidade de capitalização do banco, tentando recorrer a investidores privados; um plano de reestruturação e a venda de activos. Ao pensar em descartar activos é preciso ponderar o impacto no capital e o impacto na geração de rendimento. Tem de se conseguir um equilíbrio que não sacrifique demasiado um dos lados para atender apenas ao outro. Admito vender activos desde que não ponha em causa a capacidade de geração de rendimento do banco. O banco, como todas as empresas, tem de ser projectado num horizonte do muito longo prazo."
Questionado se o banco era para valorizar e vender bem vendido no prazo de dois anos, respondeu:
"Exactamente, é o desígnio que tenho. E esse é o ‘timing’ que está definido, vamos ver."
E sobre a recuperação dos 4900 milhões de euros, disse:
"Esse é o meu objectivo. Tenho um determinado capital que foi colocado no banco em certas condições. Tenho de fazer todo o esforço que esteja ao meu alcance — milagres não sei fazer — para assegurar que esse capital é totalmente reembolsado."
Porquê o Governo vem pôr em causa este objectivo com a opção de vender o Novo Banco com data limite até ao próximo Verão? A resposta está na ocorrência de eleições legislativas no Outono de 2015.
O BPN era uma formiga, comparada com o elefante BES, mas já levou os contribuintes a arcarem com 3,4 mil milhões de euros de prejuízos. A oposição está a usar o BES para criar insegurança entre os eleitores e recolher votos e, naturalmente, o governo pretende retirar-lhes essa arma de ataque. Vendendo o Novo Banco, mesmo com algum prejuízo, o Governo PSD/CDS põe uma pedra sobre o assunto. E aumenta a probabilidade dos partidos que o suportam ganharem as eleições. No entanto, se alinhasse na estratégia de médio prazo de Vítor Bento, o banco seria valorizado e o País beneficiaria.
Mas a coligação PSD/CDS pode perder as eleições e o problema passar para as mãos do PS. Um buraco financeiro bem escavado pode tornar-se enorme, como os socialistas demonstraram no caso do minúsculo BPN. Com a vantagem de que não decidiram o afastamento de Ricardo Salgado da liderança do BES, decisão que os socratistas nunca vão perdoar ao PSD, e podem descartar responsabilidades. Vendendo o Novo Banco com prejuízos limitados, o Governo evita um futuro buraco negro de dimensões incomensuráveis. Do mal, o menos.
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