segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trabalhando para a presidência da República





Marcelo Rebelo da Sousa, ainda no tempo da ditadura, tornou-se jornalista do Expresso, um jornal que procurava incentivar a evolução do regime.

Os tempos eram propícios. O País, governado por Marcello Caetano, desfrutava a primavera marcelista. Era preciso descolonizar mas a cúpula militar não aceitou perder protagonismo. Só Costa Gomes e Spínola, generais que não se fechavam nos gabinetes e iam ao terreno da guerra, sabiam que não havia alternativa. Caetano tentou e os movimentos da guerrilha exigiram a independência. Tal era eticamente inaceitável para ele: configurava uma traição aos portugueses que lá tinham construído as suas vidas e aos autóctones que apoiavam Portugal e podia mergulhar as colónias em convulsões sociais e até em guerras civis — a História veio dar-lhe razão. O movimento dos capitães milicianos de 25 de Abril de 1974 pôs fim ao dilema e, depois de evitar que o poder caísse na rua, saiu com dignidade.
Em 1985, Portugal aderiu à União Europeia. Para desenvolver o País, os Estados do centro da Europa enviaram dinheiro a rodos mas os políticos portugueses contemporâneos não tiveram sentido de honra: foi uma festa com as empresas de construção civil que durou uma década.
Em 2002, com a adesão à Zona Euro, choveram empréstimos a juros baixos. A população votava em quem lhe desse mais benesses e o regabofe estendeu-se até 2011: os socialistas esvaziavam o ‘pote’ e endividavam o Estado, os sociais-democratas enriqueciam na SLN/BPN e os populares faziam pela vida em negociatas tipo submarinos...

Marcelo Rebelo da Sousa fez a licenciatura, o doutoramento e a agregação na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. O seu percurso académico é transparente como água. Os seus pareceres eram reverenciados pelos juízes dos tribunais administrativos. Não bastava, o Professor tinha ambições políticas.
Decide ocupar espaço na comunicação social. Depois de ser director do Expresso (1979-1983), ajuda a fundar em 1983 o extinto jornal Semanário, onde se mantém até 1987.
Como candidato do PSD, perde a câmara municipal de Lisboa para Jorge Sampaio, em 1989, e passa pela liderança do partido entre 1996 e 1999, ano em que obtém maus resultados nas eleições para o parlamento europeu.
Procurando chegar ao coração de um povo que não lê jornais, a partir de 2000 torna-se comentador político na televisão, primeiro na TVI (2000-2004), depois na RTP (2005-2010), de novo na TVI a partir de 2010.

Em 2010, Paulo Rangel, em quem a facção de Cavaco Silva depositou a esperança de continuar a desfrutar o poder, perde as eleições internas no PSD. Mesmo assim Cavaco ganha as eleições presidenciais de 2011 e ajuda Passos Coelho a chegar ao poder pouco depois, com o mais demolidor discurso de tomada de posse de que há memória no parlamento.
Passos, porém, não retribui dando poder e lugares no governo à facção cavaquista. O presidente mostra a sua insatisfação com o corte das pensões e os seus homens esperam por uma oportunidade. Ei-la que chega: é Relvas com as suas ligações aos serviços de espionagem, as ameaças ao jornal Público e, finalmente, a pseudo-licenciatura.
Ora Relvas, além de ser o braço-direito de Passos, é o coordenador de todo o governo. É o lugar ideal para um homem do presidente — Paulo Rangel, de preferência, não que é muito novo, também pode ser Morais Sarmento ou... Marques Mendes. É este o escolhido. E ninguém é mais adequado para apresentar essa candidatura que o mais popular comentador político televisivo.

O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo da Sousa está a trabalhar para a presidência de Cavaco Silva... e para a que se segue — a dele.


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