Face ao fracasso da Nova Democracia em constituir governo, o presidente da República da Grécia deu o mandato para a formação de um governo ao líder do segundo partido mais votado, o partido de esquerda radical Syriza.
Alexis Tsipras, de 37 anos, fixou cinco regras para serem cumpridas pelas forças políticas que vierem a participar no governo:
- Rejeição imediata do memorando assinado pela Grécia com o FMI/BCE/CE, cancelando todas as medidas em curso que vão "empobrecer ainda mais os gregos", como cortes de pensões e de salários;
- Cancelamento imediato de todas as medidas em curso que vão "minar os direitos fundamentais dos trabalhadores", como abolição de acordos de trabalho colectivos.
- Abolição imediata da lei que garante imunidade aos deputados, reforma da lei eleitoral e do sistema político com abolição dos 50 lugares para o partido mais votado;
- Controlo estatal dos bancos e investigação à banca grega com imediata publicação da auditoria feita pelo BlackRock;
- Formação de uma comissão internacional para investigar as causas da dívida pública, com moratória sobre todo o serviço da dívida até que sejam publicados os resultados da auditoria.
Tsipras já recebeu o apoio do partido Esquerda Democrática. Juntamente com o Syriza prefazem apenas 71 lugares, longe dos 151 necessários para uma maioria absoluta.
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Acontece que o orçamento de Estado grego não é equilibrado, ou seja, mesmo excluindo os juros da dívida pública, verifica-se que as despesas públicas são superiores às receitas. Portanto as duas primeiras medidas são utópicas.
A terceira medida só pode merecer o nosso aplauso. É inconcebível que, de dois partidos que receberam sensivelmente a mesma votação, um tenha o dobro dos deputados do outro. O bónus de 50 lugares dado ao partido vencedor baseia-se no princípio de que os eleitores votam mais para serem governados do que para serem representados. Mas é um princípio inaceitável.
Com a corrupção que grassa na Grécia, qualquer pessoa intelectualmente honesta será obrigada a aplaudir a quarta medida. No entanto, numa sociedade que se rege há largos anos por um critério de compadrio, eliminados os actuais corruptos, outros ocuparão os seus lugares.
A não ser que instaurem uma ditadura e reponham em vigor a pena de morte. Foi o que funcionou em Cuba.
Se o governo grego suspender o serviço da dívida, conforme proposto na quinta medida, vai deixar de receber as tranches da troika.
Mesmo que não pague os juros da dívida, como o orçamento do Estado não é equilibrado, rapidamente se vai confrontar com inexistência de dinheiro para pagar os salários da função pública — professores, médicos, enfermeiros, funcionários municipais, ... —, as prestações sociais — abonos de família, subsídios de desemprego, pensões, .... — e a comparticipação nos medicamentos.
Recordemos que, após a tomada do poder em Cuba por Fidel de Castro, ficou um único médico na ilha. Mas a população era pobríssima e não estava habituada ao luxo de ter médico. Não é o caso dos gregos que usufruem de um excelente sistema nacional de saúde. Na Grécia seria o caos.
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