O actual secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar foi chefe de gabinete da secretária de Estado da Educação, Mariana Torres Cascais, do anterior governo de coligação PSD/CDS e, desde Outubro de 2009 até à entrada neste governo, foi chefe de gabinete do grupo parlamentar democrata-cristão. É membro da comissão política nacional do CDS.
É certo que a política educativa do governo Barroso não fez história, foi a continuação do governo Guterres, e quem quer ser político tem de se sujeitar às circunstâncias da época.
A dúvida sobre o pensamento de Casanova surge quando se sabe que se licenciou em Ciências da Educação, vulgo “eduquês”, e foi professor da Escola Superior de Educação de Almeida Garrett, da universidade Lusófona, até 2000.
É que esta ESE nem sequer tem o nível da de Lisboa onde Alçada era professora, é do pior que existe em termos de formação de professores. Comprove, caro leitor, através do seguinte questionário proposto aos alunos, e futuros docentes, criticado por Carlos Fiolhais no Rerum Natura:
"ESEAG – Escola Superior de Educação Almeida Garrett
Disciplina de Educação e Valores
Questionário
— Numa época de canhestros, sistemáticos e fragmentários dogmatismos, labilismos, labialismos, «turismos» culturais, pragmatismos, cepticismos, determinismos, fatalismos, autismos, narcisismos, parolismos... – mais ou menos camuflados por dinâmicas endógenas e exógenas – um relance, embora perfunctório, sobre a ossatura programática da Disciplina, permite afigurar-se razoável, liminarmente, a susceptibilidade de desfibrá-la, entre outras, nas seguintes dicotomias axiológicas mediáticas multifacetáveis, confinantes, congruentes, sinalagmáticas..., a entrecruzaram-se, transumirem-se, transubstanciarem-se, transversalizarem-se, etc. v.g. Cultura-Civilização; Valores-Referências.
Sem irrelevar o subjacente, atipico e ágrafo património – genético, material e espiritual – a montante e a jusante do aluno, teça um comentário sinóptico (corroborante ou repudiante), ancorado em dimensão axiológica e argumentos, empíricos ou especulativos, minimamente válidos."
Carlos Fiolhais termina a sua crítica com estas palavras:
"Temos de o dizer sem rodeios: Uma vaca é uma vaca, por muito que se lhe queira chamar um boi... E as nossas crianças, para crescerem saudáveis, têm o direito inalienável a que não as confundam!"
Nem mais!
Pensar que uma criança vai cruzar-se na escola com um docente “formado” nesta ESE, causa arrepios. Um professor digno desse nome nem sequer conseguiria sobreviver por um dia em tal meio anaeróbio.
O ditador Salazar permitiu a escolha do Professor Sebastião e Silva — o maior matemático português do séc. XX, o criador da axiomática das distribuições finitas — para revolucionar o ensino da Matemática neste País e formar uma ínclita geração de professores de Matemática, tanto no ensino superior, como no não superior.
Marcelo Caetano escolheu Veiga Simão para reformar o ensino universitário em 1972 e permitiu o regresso de professores portugueses que leccionavam em universidades estrangeiras concedendo-lhes categoria idêntica à que aí tinham, o que revitalizou o ensino português.
A democracia entregou a formação dos docentes aos politécnicos (2º ciclo nas ESE) e às universidades privadas (3º ciclo e secundário), produziu os paladinos do “eduquês” — e permitiu-lhes chegar ao topo do edifício da 5 de Outubro com Rodrigues e Alçada — com os resultados catastróficos que todos conhecemos.
Portugal teve de reconhecer, em Maio, a sua incapacidade para gerir a dívida pública de 160 mil milhões de euros e pediu um empréstimo externo de 78 mil milhões de euros. Neste panorama, a privatização das empresas públicas rentáveis pouco permitirá amortizar desta dívida.
Sem empresas públicas e com a prospecção de petróleo na plataforma continental a revelar-se infrutífera, restava-nos uma única possibilidade: qualificar os recursos humanos. A qualificação dos trabalhadores por conta de outrem e dos empresários ia desencadear o crescimento económico e era a tábua de salvação do País. Mas exigia uma revolução no ensino.
Passos Coelho surpreendeu ao escolher o homem adequado ao empreendimento — Nuno Crato.
Esperava-se que Paulo Portas fosse a consciência deste governo e prevenisse previsíveis erros de quem não tinha experiência de governação. Pois optou por enfiar medíocres na administração central, na administração da CGD, ... , na ânsia de controlar o aparelho do Estado.
Introduziu um cavalo de Tróia no ministério da Educação e Ciência: o projecto de avaliação do desempenho docente vai manter os profissionais que não estejam dispostos a sujeitarem-se ao servilismo e à degradação do “eduquês” — os melhores docentes — bem longe do ensino público, numa época em que cada vez menos famílias têm hipótese de matricular os filhos em bons (e caros) colégios privados.
Portas não é um estadista, é um arrivista. Vai ser o coveiro da Nação.
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