Ontem à tarde, Nouriel Roubini escreveu este artigo no Finantial Times, sob o título "Mission impossible: stop another recession":
7 de Agosto de 2011 18:19
"O primeiro semestre de 2011 mostrou uma desaceleração do crescimento — se não mesmo uma contracção — nas economias mais avançadas. Os optimistas disseram que era uma correcção temporária. Uma ilusão frustrada. Mesmo antes do pânico da semana passada, os EUA e outras economias avançadas estavam a caminho de uma segunda recessão grave.
Os dados recentes da América foram ruins: houve reduzida criação de emprego, fraco crescimento e estagnação do consumo e da produção industrial. A habitação permanece deprimida. Caiu a confiança de consumidores, empresários e investidores e, agora, vai cair ainda mais.
Do outro lado do Atlântico a periferia da Zona Euro está agora em contracção ou, na melhor das hipóteses, a crescer fracamente. O risco de que a Itália ou a Espanha — e talvez ambos — venham a perder o acesso aos mercados de dívida é, agora, muito alto. Ao contrário da Grécia, Portugal e Irlanda, estes dois países são demasiado grandes para serem resgatados.
Entretanto, o Reino Unido viu o crescimento a aplanar à medida que a austeridade vai ferroando e o Japão, estruturalmente estagnado, vai recuperar durante alguns trimestres — após a dupla recessão a seguir ao terramoto — apenas para estagnar de novo quando os estímulos fracassarem. Pior ainda, os principais indicadores da produção global estão a diminuir drasticamente — quer nas economias emergentes, como a China, Índia e Brasil, quer nos países orientados para a exportação ou ricos em matérias-primas, como a Alemanha e Austrália.
Até ao ano passado os políticos podiam tirar um coelho da cartola para accionar a deflação dos activos e a recuperação económica. Taxas de juro zero, QE1, QE2, crédito facilitado, estímulos orçamentais, delimitação, provisão de liquidez no montante de biliões de dólares e resgate a bancos e instituições financeiras — tudo foi tentado. Mas agora esgotámos os coelhos.
A decisão desacertada da Standard & Poor’s de descer a notação dos EUA num momento de turbulência do mercado e fraqueza económica tão graves só aumenta a probabilidade de uma recessão em W e ainda maiores défices orçamentais. Paradoxalmente, porém, o Tesouro dos EUA provavelmente continuará a ser o activo seguro menos desagradável: a aversão ao risco, o declínio de capital e uma crise iminente podem até mesmo fazer a taxa das obrigações do Tesouro cair em vez de subir.
Agora, tanto na Zona Euro como no Reino Unido, a política orçamental é contraccionista. Mesmo nos EUA a questão é apenas o montante da redução, à medida que as autoridades estatais e locais, e agora o governo federal, cortarem despesas, reduzirem as transferências e (em breve) aumentarem os impostos. Outra rodada de resgates a bancos é politicamente inaceitável. Mas mesmo se não fosse, a maioria dos países, especialmente na Europa, estão tão enfraquecidos que o risco soberano está a gerar risco bancário — porque os bancos estão carregados de dívida pública.
A esperança numa flexibilização quantitativa [quantitative easing (QE), vulgo 'imprimir dinheiro'] será limitada pela inflação que está bem acima dos níveis-alvo no mundo ocidental. A Reserva Federal vai começar, provavelmente, uma terceira rodada de QE, mas será um pouco tarde demais. No ano passado, um QE2 de 600 mil milhões de dólares (juntamente com 1 bilião de dólares de cortes de impostos e transferências) produziu uma taxa de crescimento de apenas 3%, durante um trimestre. Um QE3 será muito menor e vai fazer muito menos.
Nem as exportações ajudam. Todos os países desenvolvidos precisam de uma moeda mais fraca, mas nem todos podem tê-la — se um é mais fraco, outro tem de ser mais forte. É um jogo de soma zero que tem o risco de reacender guerras monetárias. Estão a começar as escaramuças iniciais com o Japão e a Suíça a tentarem enfraquecer as taxas de câmbio. Em breve outros vão seguir-se.
Assim, podemos evitar uma nova recessão grave? Pode ser uma missão impossível. A melhor aposta para aqueles países que não perderam o acesso ao mercado — os EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha — é introduzirem um novo estímulo orçamental no curto prazo, enquanto se comprometem com uma austeridade orçamental a médio prazo. A descida da notação dos EUA irá acelerar os pedidos de redução orçamental mas a América, em particular, deve comprometer-se com cortes significativos no médio prazo, não um corte orçamental imediato que vai piorar o crescimento e os défices.
A maioria dos bancos centrais ocidentais deve apresentar ainda mais QE, apesar do efeito ser limitado. O Banco Central Europeu não deve parar a caminhada das taxas: deve reduzir as taxas a zero e fazer grandes compras de obrigações soberanas para evitar que a Itália ou a Espanha percam o acesso ao mercado — o que teria como resultado uma crise verdadeiramente colossal, a exigir o dobro (ou o triplo) dos recursos para resgates, ou insolvências e a implosão da Zona Euro.
Finalmente, uma vez que esta é uma crise de solvência, assim como de liquidez, deve começar uma reestruturação ordenada da dívida. Isto significa uma redução da dívida hipotecária para a metade das famílias dos Estados Unidos que estão debaixo de água, e bail-ins para os credores dos bancos em perigo. Devem ser concedidas extensões de maturidade coercivas nas taxas livres, ao estilo grego, também para Portugal e Irlanda, com a Itália e Espanha a seguir, se perderem o acesso ao mercado. Pode não ser possível prevenir outra recessão. Mas a política pode parar uma segunda depressão. Isso é um motivo suficiente para uma acção rápida e bem localizada."
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