segunda-feira, 9 de maio de 2011

Portugal e a crise da dívida da zona euro


Num artigo no Finantial Times sobre a crise da dívida soberana na zona euro, Wolfgang Münchau alerta para a incompetência governativa de José Sócrates e defende que a única forma de prevenir tais situações e manter a união monetária é avançar para uma união política:

"Na crise da zona euro, a questão essencial não é o tamanho total da dívida soberana dos países periféricos. Porque é pequena relativamente ao produto interno bruto da união monetária. A razão entre a dívida total da zona euro e o PIB é menor do que a do Reino Unido, EUA ou Japão. Do ponto de vista macroeconómico, trata-se de uma tempestade num copo de água.
O problema é que a zona euro é politicamente incapaz de lidar com uma crise que é contagiosa e tem potencial para causar enormes danos colaterais. A "grande pechincha" — uma série de acordos institucionais sobre a dívida soberana da zona euro firmados pelo Conselho Europeu de Março — não resolve a actual crise. O processo de resolução só agora está a começar. Os responsáveis perceberam que, não importa qual a opção que escolherem para gerir a dívida, vai custar centenas de milhares de milhões aos contribuintes. É altamente improvável que os Estados aceitem fazer transferências fiscais de tal valor, sem impor condições extremas sobre um outro.

A razão política pela qual esta crise vai de mal a pior é um problema de actuação colectiva que continua por resolver. Ambos os lados têm falhado. O deputado avarento e economicamente iletrado do Norte da Europa é tão responsável como o primeiro-ministro do Sul da Europa que só se preocupa com o seu quintal. O governo grego comportou-se com relativa correcção, mas a forma como Portugal tem gerido, e continua a gerir, a crise é assustadora.
O primeiro-ministro José Sócrates decidiu adiar até ao último minuto o pedido de ajuda financeira. A sua comunicação, na semana passada, foi um ponto alto do lado tragicómico da crise. Com o país à beira da bancarrota, foi à televisão nacional orgulhar-se de ter garantido um acordo melhor do que a Grécia e a Irlanda. Além disso, garantiu que o acordo não seria muito doloroso. Passados poucos dias, quando se conheceram os pormenores, percebeu-se que nada disso era verdade. O pacote contém severas reduções de despesas, congela os salários da função pública e as pensões, aumenta os impostos e prevê uma recessão profunda nos próximos dois anos.

Não se pode gerir uma união monetária com governantes como o Sr. Sócrates ou com ministros das Finanças que espalham rumores sobre uma cisão.
As elites políticas da Europa têm medo de dizer uma verdade que os historiadores económicos sabem desde sempre: que uma união monetária sem uma união política não é viável. Não é uma crise da dívida. É uma crise política. A zona euro vai confrontar-se, em breve, com a escolha entre um impensável passo em direcção a uma união política ou um igualmente impensável passo a trás. Sabemos que o Sr. Schäuble
[ministro das Finanças alemão] reflectiu sobre esta última hipótese e rejeitou-a. Sabemos também que prefere a primeira. É tempo de o dizer."


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